Resumo
O presente artigo tem como objetivo demonstrar como a arte, principalmente aquela produzida por sujeitos pertencentes a grupos historicamente oprimidos, pode ser um importante instrumento de ressignificação dos lugares socialmente imaginados. Partindo do relato da experiência do Coletivo Negro, grupo teatral da cidade de São Paulo, cujas produções são marcadas pela discussão acerca das questões estéticas e socioeconômicas do negro brasileiro, pretendemos demonstrar como a companhia consegue ser um contraponto ao construto eurocêntrico-colonial-ocidental por sua vez formado sob o viés binário, dicotômico e hierárquico da branquitude, que suplanta modos de vida e conhecimentos que operam fora da ideia de razão iluminista e individualista. O Coletivo Negro trabalha coletivamente em sua pesquisa teatral a subjetividade negra das mais diversas formas, denunciando a realidade social do negro no Brasil e reimaginando locais de pertencimento, na tentativa de desfazer violências perpetuadas durante séculos, e movimentando experiências e memórias coletivas.