Resumo
A discussão se articula a partir das noções de patriarcado e colonialidade em relação à naturalização de uma ordem hegemônica reafirmada em desvalores sociais de gênero, raça e classe perpetrados nas práticas e teorias constituintes e mantenedoras do campo da Educação no Brasil. Considerando as interseccionalidades de gênero e raça nas estratificações de classes como estruturantes de nossas experiências, as reflexões quanto ao campo da Educação brasileiro desvelam ideais políticos pedagógicos definidos por uma norma eurocentrada, (hétero) patriarcal, associada à branquitude e conservação de colonialidade dos saberes e poderes em exercício. Tais relações produzem e reproduzem hierarquias valorativas conformadoras de um capital simbólico de gênero negativado, que atua concomitante e articulado à racialização assimétrica de nossas representações identitárias, indissociadas de um capital racial arbitrário, considerando reminiscências de uma sociedade colonialista e escravagista em sua gênese. Essa ordem socialmente reconhecida, enquanto permanente mercado de trocas simbólicas segrega as mulheres, ao mesmo tempo em que as segmenta também entre si, por condicionantes historicamente garantidos em capitais simbólicos distintos e distintivos que promovem a incorporação das categorias gênero e raça enquanto produtoras de posições e representações de desvalor social que se atualizam no tempo. A exploração do conceito de branquitude em relação ao campo da Educação brasileiro, e quanto aos processos de feminização da docência escolar, teórica e empiricamente, questiona a conservação de privilégios de raça e classe intragênero nos sistemas formais de ensino, bem como permite questionar os sentidos de uma feminização do magistério como possível reforço sistematizado de normas hegemônicas pela reprodução de desigualdades de gênero, raça e classe institucionalizadas por um paradigma educacional fundado em dominação. O trabalho de campo se deu a partir de entrevistas realizadas com professoras da educação básica, no município de São Gotardo, pensando o recorte e seleção das interlocutoras a partir da condição de gênero feminino, cis, e articulando as experiências das mesmas às questões reflexivas propostas na pesquisa quanto à formação e inserção docente nas trajetórias narradas.