Esse artigo tem como propósito trazer à tona o processo de construção do pensamento crítico da branquitude na produção de uma tese de doutorado no Instituto de Psicologia na Universidade de São Paulo, procurando registrar as encruzilhadas e caminhos que apareceram. A pesquisa de foco mais amplo procurou se valer da perspectiva etnográfica, apoiando-se em materiais diversos: observações de campo, entrevistas e análise crítica de um texto literário,tendocomotemaarelaçãointerracialemterritóriosculturaisnegros.Ocontatocomautoresdapsicologia social do racismo, dos estudos culturais e de certa sociologia brasileira que tematiza o racismo brasileiro foram o caminho para se chegar ao conceito da branquitude. Entende-se por branquitude a identidade social que oferece privilégiosmateriaisesimbólicosaosbrancosnassociedadesestruturadasnadesigualdaderacial.Considerandoa discussão sobre a invisibilidade e visibilidade dessa identidade social para os brancos, procurou-se evidenciar as estratégias racistas de sustentação dos privilégios da branquitude na análise sobre a convivência interracial em territórios culturais negros. As observações sobre o percurso vivido na pesquisa e observações de campo, mas sobretudoapartirdaanálisedocontodeAlbertCamusealeiturafeitaporAlfredoBosisobreessaobraapontaram como a interação social e cultural dos brancos com os negros em territórios de cultura negra pode tornar ainda mais invisíveis as formas de exercício da branquitude e a sustentação dos privilégios dos brancos, não provocando necessariamente o envolvimento destes na luta antirracista. Procura indicar o quanto a dimensão das desigualdades raciais postas pelo colonialismo não compareceram na crítica literária produzida por Alfredo Bosi, ratificando assim as conclusões feitas por Priscila Silva (2015) acerca da manutenção do projeto de branqueamento e o apagamento das questões raciais, sendo a hierarquização racial traduzida em termos culturais.