Resumo
A visão do corpo negro nas Américas é diretamente conectada à história da criação da branquitude. Esta violência, ainda que não apenas simbólica, se expressa no cinema também. Os clichês ofensivos estão presentes em todos os gêneros cinematográficos, incluindo o cinema de horror. Um subgênero do terror, os filmes de zumbi, ainda que em sua gênese tenha perpetuado a representação negra de forma caricata, revelam a natureza subversiva do gênero a partir do lançamento de Night of the Living Dead (1968), dirigido por George A. Romero. Este artigo tem como objetivo analisar a subversão do White Gaze nos filmes de zumbi contemporâneos. O White Gaze prevê, ao observar o corpo negro, a negritude como representação do mal, uma ameaça e a antítese da norma. Em White Zombie (1932), o foco é em Madeline, uma mulher branca, que sucumbe e é corrompida pela zumbificação. Em The Ghost Breakers (1940), o negro exótico e assustador dá espaço ao negro ajudante e assustado. Night of the Living Dead (1968), por sua vez, reescreveu as regras do filme de zumbis e reposicionou a negritude nos filmes do gênero. Blood Quantum (2019) representa a branquitude como egoísta e violenta. Ainda que, na gênese do cinema de zumbis, o White Gaze esteja reforçado de maneira agressiva e enfática, os filmes contemporâneos do subgênero carregam o potencial de subverter o status quo racial.