Iniciamos as discussões dentro dos Estudos Críticos da Branquitude, um campo interdisciplinar de estudos no âmbito das humanidades em emergência nas últimas décadas, sobretudo no contexto brasileiro. Após um pequeno sobrevoo de revisão histórica da constituição do campo (Fanon, 2008; Memmi, 1957; Ramos, 1957; Schucman, 2023; Sovik, 2009; Frankenberg, 2004; DiAngelo, 2018; Bento, 2022), apontamos aquilo que podem ser os deslocamentos possíveis a partir de Cardoso (2008, 2017, 2020) para se pensar uma categorização das práticas discursivas de ocupantes da branquitude. Tanto os ocupantes da branquitude não signatários, como temos chamado os que se põem no espaço público como aliados à luta antirracista, quanto aqueles que aderem a esse pacto racial intencionalmente, podem ter práticas raciais ora mais antirracistas, ora mais racistas. O desvencilhamento da categorização de “ser antirracista” ou “ser racista” nos possibilita pensar em posições não estanques, mas porosas, de entendimento do que é e do que pode ser a contribuição de ocupantes da branquitude para com a luta antirracista. Assim, em uma escala que alia um coeficiente de criticidade a outro de agentividade, a saber, a escala da crítico-agentividade, elencamos pelo menos seis posições possíveis para se pensar a (não) contribuição desses sujeitos à luta. No extremo polo esquerdo da escala, indicando o mais alto grau de contribuição positiva à luta, temos a criticidade agentiva, seguida da criticidade performativa e da criticidade indiferente. Adentrando nos graus de práticas mais racistas, iniciamos a direita da escala com a não criticidade deslocada, a não criticidade meritocrata e, por fim, a não criticidade supremacista. O primeiro termo desses nomes (criticidade ou não criticidade) refere-se à presença ou ausência do autoquestionamento acerca dos privilégios recebidos, não somente ao reconhecimento ou não do recebimento dessas vantagens simbólicas e materiais. Por conseguinte, o segundo termo desses nomes elucida a categorização dos tipos de agentividade que esses sujeitos podem exercer, indo de um agir social mais antirracista ao mais racista. Ao categorizar as práticas raciais dos ocupantes da branquitude, e não, como é comum, os próprios sujeitos, retiramos a possibilidade de se pensar em denominações fechadas, estanques, imutáveis, quase sempre baseadas em argumentos frágeis, para partir para uma análise detida daquilo que é supraindividual e, por consequência, cabível a todos fazer ou evitar.