Resumo
Nós queremos reitores negros, saca?: trajetórias de universitários negros da classe média da UFMG. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. A atmosfera racial contemporânea, no Brasil, não pode ser comparada com o que era o cenário racial há trinta anos. Ainda que o racismo seja um elemento estruturador da dinâmica social brasileira, os dilemas em torno das relações raciais não estão mais, apenas, na subalternização, violência e opressão do povo negro. De fato, ampliaram-se os debates e a mobilização para reversão das desigualdades raciais, institucionalizando-se, por exemplo, as Ações Afirmativas e demais políticas de inclusão e valorização da população negra no país. Nessa direção, os estudos sobre os negros da classe média têm-se tornado um campo de investigação amplo e complexo para construirmos ferramentas e práticas que ajudem no descortinamento do racismo brasileiro e na consolidação de estratégias para o seu combate. Nessa pesquisa, realizamos a construção de um tema-campo que intencionou compreender as trajetórias de universitários negros de classe média da UFMG. A articulação entre as elaborações epistemo-teórico-metodológicas e o uso das narrativas de oito universitários negros de classe média nos possibilitou o reconhecimento de um novo imaginário social acerca dos negros em ascensão. Isso rompe com a incompatibilidade histórica entre ser negro e o poder de desfrutar dos bens associados à modernidade. Esses sujeitos apontam para o fato de serem, em sua grande maioria, a segunda geração de negros da classe média em suas famílias, o que, por conseguinte, tem lhes possibilitado o acesso a uma educação de base que garanta a entrada no ensino superior público e uma série de privilégios que tem lhes permitido o acúmulo de bens econômicos e culturais. Eles denunciam, também, como a universidade tem sido um espaço, cotidianamente, ressignificado pela presença de negros e pelo debate antirracista a partir da ação de movimentos políticos e culturais que reverberam dentro dos muros no ensino superior público. O que se percebe, fundamentalmente, é que, ainda com a existência de práticas de preconceito e discriminação nos espaços em que estão, esses jovens têm se esforçado na tentativa de ressignificar os valores da classe média brasileira, tornando-a mais ampla e democrática a partir de referenciais negros. A universidade e a classe média se tornam, para esses universitários, lugar estratégico de poder para ação e intervenção, de modo a interpelar a branquitude, o consumo e a elitização como norma única de organização da sociedade.