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Um projeto civilizatório e regenerador: análise sobre raça no projeto da Universidade de São Paulo (1900 -1940)

Autor(a)

Priscila Elisabete da Silva

Resumo

Com 8 décadas de existência, a Universidade de São Paulo tem se firmado como o grande modelo de universidade para o país. Seja pelos dados que apresenta, seja pela afirmação de sua história, tem marcado seu espaço na sociedade brasileira como referencial na formação científica, na produção cultural e na produção de elites que não raramente assumem postos de comando no país. Apesar dessas conquistas, a USP apresenta um quadro anacrônico em relação à diversidade étnico-racial, sobretudo, no seu corpo docente, que tem sido formado com um perfil étnico-racial extremamente homogêneo. A pesquisa ora apresentada objetivou entender a existência e a configuração de um possível nexo entre o debate racial das primeiras décadas do século XX no Brasil, com o processo histórico da fundação da Universidade de São Paulo. Na presente análise, três figuras ocupam papel de destaque: o eugenista Renato Ferraz Kehl e dois dos personagens centrais na configuração do Projeto USP, nomeadamente, Júlio de Mesquita Filho e Fernando de Azevedo. A partir da análise do corpus documental, formado por correspondências e textos dos intelectuais citados, foi possível identificar que muitos dos personagens ligados à história da criação da USP participaram ativamente do debate sobre raça e eugenia apresentado nas primeiras décadas do século XX. A despeito do relativo silêncio do envolvimento do tema raça com a história da USP, a presente pesquisa tem por objetivo trazer o tema à tona, por entender ser um dado relevante para a compreensão do papel da universidade e sua relação com a questão racial brasileira. Tendo estado presente na visão dos fundadores da instituição, bem como moldado o modo como estes compreendiam sua percepção da sociedade, a concepção racial vigente na elite pensante brasileira do início do século XX, manifestou-se na constituição da identidade (e identificação) entre a USP e São Paulo e está presente em seus símbolos. Tal dado fornece fortes evidências de que há, nesta instituição, uma cultura racial, isto é, uma tradição em lidar com a raça de modo implícito, por metáforas. Este fato também corrobora com a ideia de que a questão racial perpassa a USP da mesma forma como perpassa a sociedade brasileira como um todo.